A Manutenção da saúde passa pela razão, consciência e fé
Fabio Aprile*
Nós seres humanos, que por natureza vivemos em sociedade, em nossa incansável busca pela praticidade, facilidade e rapidez, acabamos por cair no que eu denomino ‘vórtice paradoxal’. Isso porque, se por um lado nós entendemos que a praticidade nos permitirá ter mais tempo livre, acabamos por desperdiçar esse tempo com questões que pouco nos eleva como seres humanos.
Cabe aqui a citação da psicanalista Cláudia Pacheco, “o ser humano precisa aprender a colocar o que é essencial na vida em primeiro lugar e o secundário deixar no lugar certo…”1. Devemos notar que nessa suposta evolução, nós deixamos de interagir de forma pessoal para nos comunicar massivamente através de redes sociais, estabelecendo de fato não uma interação, mas um isolamento. Na questão da saúde não é diferente, nós deixamos de saborear o natural e saudável, pelo industrializado e danoso.
Muitas vezes estamos tão ocupados com a nossa competição pessoal, que adquirimos inconscientemente maus hábitos alimentares e sociais, que causam uma falsa sensação de saúde, visto que diversas doenças vão, muitas vezes de forma silenciosa e constante, deteriorando nosso corpo e ama. Em decorrência disso, somos acometidos pelo estresse e doenças físicas e psicológicas. É como explica o professor Norberto Keppe, fundador da SITA – Sociedade Internacional de Trilogia Analítica, em artigo de Pacheco1,
“as doenças físicas, psíquicas e sociais são fruto da inversão do ser humano, que passou a ver o trabalho como seu inimigo e a alienação como descanso e bem-estar”1.
Os conhecimentos científicos adquiridos, bem como o pensamento lógico e crítico, não devem ser utilizados para o fortalecimento da individualidade, que gera o isolamento. Ao invés disso, é necessário se utilizar de tais conhecimentos, quantitativos e qualitativos, para buscar uma maior harmonização com o ambiente, canalizando as energias positivas vitais, e trazendo consigo diversos benefícios físicos e mentais. Nesse contexto, os usos da fitoterapia e aromaterapia podem trazer grandes benefícios ao corpo, mente e alma. O uso de plantas medicinais no dia a dia não traz apenas um resgate da história das comunidades tradicionais, como também aproxima as pessoas ao ambiente natural, mais simples e saudável.
A fitoterapia, cultura milenar, pode ser utilizada como tratamento e manutenção da saúde física, bem como uma forma de combater o estresse da vida tecnológica, o ócio e a depressão. Recordo aqui o depoimento de um médico de origem indígena, que após se formar retornou a sua comunidade e notou que paulatinamente a população local estava trocando os tratamentos naturais por medicamentos manufaturados, quase que única e exclusivamente pela praticidade2. Isso nos leva a discussão inicial, sobre a busca pela praticidade, facilidade e rapidez, que culminam em um ‘vórtice paradoxal’. Esse é um erro que todos nós, independentemente de etnia ou religião, estamos propensos a cometer.
Os benefícios do uso das plantas medicinais vão além do consumo e aplicação. O cultivo e manejo em pequenas hortas e vasos, até mesmo dentro de um apartamento, os cuidados com armazenamento, e o todo o ritual que antecede o uso de pomadas, infusões, chás, banhos e saunas, ajuda na harmonização da mente. Os psicanalistas Keppe e Pacheco discutem bem a questão da saúde ampla e universal, que não deve se limitar ao corpo, mas incluir consciência e alma3,4.
O conhecimento científico, a constante interação do pensamento e reflexão, e a fé como ato da mais pura confiança nos resultados estão em continua sinergia.
A simples atitude de mudar hábitos alimentares e comportamentais, procurando cultivar parte dos próprios alimentos, contribuirá para uma maior harmonização do ambiente e canalizará energias boas, trazendo diversos benefícios físicos e mentais a quem os cultivar. Essa é uma premissa igualmente milenar, resgatada a pouco mais de quatro décadas pela permacultura. Mais do que simplesmente estar vivo, é preciso viver, e a qualidade de vida começa na sinergia e harmonização do corpo (razão), mente (consciência) e alma (fé).
* Fabio Aprile é professor, físico e biólogo, mestre e doutor em ciências, com pós-doutorado em oceanografia física e em físico-química; autor do livro ‘Etnoconhecimento e cultivo de plantas medicinais’; defensor da qualidade de vida pela relação homem-natureza através da permacultura.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1880953590403490
Referências
1 Pacheco, C.B.S. 2018. Felicidade é mesmo fazer tudo o que se quer? Stop – Jornal Científico Trilógico, nº 97, pg. 3.
2 Aprile, F.M. & Siqueira, G.W. 2012. Etnoconhecimento e cultivo de plantas medicinais. Curitiba, Paraná: Editora CRV, vol.1, 476 pg.
3 Keppe, N.R. (2003). A medicina da alma. Proton Editora.
4 Pacheco, C.B.S. (2001). A cura pela consciência. Teomania e stress. Proton Editora, 4nd Ed.